segunda-feira, 9 de julho de 2012

Humberto Costa: "modelo de gestão do PT criou o bolsa família, 15 milhões de emprego e promoveu o maior desenvolvimento que o Brasil já teve"


Após enfrentar todas as turbulências que fazem da eleição do Recife em 2012 completamente sui generis, o pré-candidato do PT à Prefeitura do Recife, Humberto Costa, demonstra estar com sede de vitória. De natureza desconfiada, o petista anda mais cauteloso que o habitual no trato com a imprensa. Na entrevista que concedeu ao Jornal do Commercio na última quinta-feira (5), na sede do PT estadual, deixou claro que promete colocar no campo da oposição o seu maior adversário nessa disputa: o PSB. E mais, Humberto Costa pretende desconstruir a retórica dos socialista de que o Recife precisa de um gerente. “Esse discurso de modelo de gestão, que a cidade precisa de um gerente, é antigo. O PSDB faz esse discurso há muito tempo. Na verdade o modelo de gestão é meio, não é fim. Monitorar, definir resultado é uma obrigação de qualquer gestor. O modo de gestão do PT, o modelo de gestão do PT é o modelo que criou o bolsa família, que criou 15 milhões de empregos, que promoveu o maior desenvolvimento que o Brasil teve ao longo dos últimos anos”, atacou. O prefeiturável também cobrou explicações do governador Eduardo Campos por sua união com o senador Jarbas Vasconcelos, que Humberto lembra, não sem uma pitada de ironia, ser “o maior adversário político de Lula e de Dilma” e completa: “Não me juntei com a direita para poder apresentar uma candidatura”.

JORNAL DO COMMERCIO - Após muitos problemas, a campanha está começando de fato?

HUMBERTO COSTA - Não vejo muitos problemas na nossa candidatura, pelo contrário. Estou na frente em todas as pesquisas que foram feitas até agora. A chapa que nós apresentamos, sem dúvida é a mais forte. Pela primeira vez vou ter entre seis e sete minutos de televisão, em nenhuma eleição eu tive mais de quatro minutos. Nós vamos ter quase 200 candidatos à Câmara Municipal. E tenho o apoio dos três principais eleitores da cidade: Lula, Dilma e João Paulo. Uma candidatura como essa pode ter problemas? Aconteceram dificuldades que vamos superar sem problema. Isso vai passar durante a campanha porque as pessoas querem um debate sobre a cidade.

JC - Todos os candidatos falam em mudança. Seu projeto é o da continuidade?

HUMBERTO - Nosso projeto é de mudança contínua mas ao mesmo tempo tem inovações. A nossa proposição é que o Recife siga em frente. Vamos dar continuidade a tudo de bom que foi e está sendo feito, mas repensar a cidade do futuro. Nosso lema será: cuidar da cidade e cuidar das pessoas.

JC - E as deficiências da gestão? Na prévia elas foram colocadas.

HUMBERTO - Sempre coloquei que nossa divergência com João da Costa foi pequena no campo da gestão administrativa e maior na gestão política. A relação com o partido, com a Frente, com a Câmara (de Vereadores), com a sociedade, com o governo federal, com o governo estadual. Vou defender a gestão dentro do que é esse nosso projeto.

JC - Mas há uma reprovação concreta à gestão João da Costa.

HUMBERTO - É, mas em parte tem a ver com os próprios problemas políticos. Do rompimento com João Paulo. As condições de saúde do prefeito, enfim, muitas coisas pesaram.

JC - Qual a impressão que ficou da saída do ex-deputado federal Maurício Rands do PT?

HUMBERTO - Foi uma decisão individual, unilateral. Não foi discutido com o partido. Não tenho elementos para analisar. As mesmas dúvidas que você tem, eu tenho. Ele não conversou com o partido. Só posso me posicionar em torno do que ele falou.

JC - E o prefeito João da Costa, como está a relação com ele?


HUMBERTO - Dentro das condições atuais diria que bem. Tive contato com ele semana passada na reunião do diretório nacional, por telefone antes da convenção, por torpedo essa semana para que a gente pudesse ter acesso a algumas informações da prefeitura. Ele indicou uma pessoa que poderia fazer isso. Vai ter um momento adequado que a gente vai sentar para conversar.

JC - É confortável para João da Costa apoiar sua candidatura?

HUMBERTO - Houve muitos momentos no PT em que aquilo que eu desejava não coincidia com a realidade do partido. Em 2008 meu convencimento era de que seria melhor que tivéssemos outro nome, mas a escolha foi por João da Costa. Participei da campanha, nosso grupo deu apoio, participamos do governo.

JC - Mas são momentos bem diferentes. Agora João da Costa é prefeito.

HUMBERTO - Não fui protagonista desses episódios de agora. Assumi ser candidato por uma convocação do partido, homologada pelo PT municipal, estadual e nacional. Estou cumprindo um papel, uma missão. Não tenho tenho dificuldades com João da Costa e nem vejo porque ele tenha restrição pessoal a mim.

JC - E a versão de que o senhor conduziu tudo e gerou esse desfecho?

HUMBERTO - É coisa fabricada. Por quem tem interesse de colocar o PT contra o PT. Não precisa ser um grande detetive para ver quem fica disseminando essas fofocas.

JC - A escolha de João Paulo para a vice não soa como uma afronta ao prefeito?


HUMBERTO - Não. Conversei com ele antes, falei das dificuldades em relação as possibilidades que tínhamos. Fiz a opção pelo que eleitoralmente era mais forte para o PT.

JC - São legítimos os argumentos de Eduardo Campos para lançar candidato no Recife, que o PT foi incapaz de unir a Frente?

HUMBERTO - Não. Eu vou dar um exemplo para você: Caruaru. O PDT tem a prefeitura, o prefeito José Queiroz é candidato a reeleição e o vice-governador já declarou que não apoia essa candidatura. Outros partidos da Frente também não querem apoiar essa candidatura e ninguém achou que o PDT perdeu a condição de comandar o processo. Porque é que o PDT lá tendo uma divisão tem condição de conduzir o processo e o PT aqui não tem? O PT está na gênese da formação da Frente Popular. Foi em 2006 quando eu era candidato a governador que manifestei meu apoio a candidatura de Eduardo. Frente Popular sem PT e PSB não existe. Não fomos nós que rompemos. Esses argumentos são muito mais justificativa para querer disputar uma hegemonia no Recife. Nós continuamos do mesmo lado, fazendo alianças com os partidos e com as figuras que fazem parte da base do governo de Dilma, de João da Costa e do próprio Eduardo. Eu não fui atrás de Jarbas Vasconcelos que é o maior adversário político de Lula e de Dilma. Nem me juntei com a direita para poder apresentar uma candidatura.

JC - Do que o senhor observa, há um movimento visível do PSB de crescimento?

HUMBERTO - É justo que o PSB queira crescer e se consolidar nacionalmente. Mas acho justo que o PT defenda seus espaços. Não estamos crescendo em cima do PSB ou em cima do PCdoB, nem de nenhum partido que faz parte da base de Dilma. Queremos crescer em cima da oposição.

JC - PT e PSB podem polarizar a eleição?

HUMBERTO - Acho um erro subestimar a oposição (no Recife). Começamos a eleição de 2000 com João Paulo com 5% e ganhamos no 2º turno contra Roberto Magalhães, um prefeito muito bem avaliado com o apoio de FHC e Jarbas, dezenas de partidos, um tempo gigantesco de TV. Nunca se deve menosprezar adversário.

JC - O senhor vê no PSB um discurso de oposição ao PT?

HUMBERTO - Não quero fazer esse julgamento. Agora é preciso fazer um debate político. Por exemplo, esse discurso de modelo de gestão, de que a cidade precisa de um gerente, é antigo, o PSDB faz esse discurso há muito tempo. O modelo de gestão é meio, não é fim. Monitorar, definir resultado é obrigação de qualquer gestor. O que difere um partido, um projeto do outro, são os fins e no Recife nós temos a filosofia que é cuidar da cidade e das pessoas. Fizemos mudanças profundas na cidade. O modo de gestão do PT é o que criou o bolsa família, 15 milhões de empregos, que promoveu o maior desenvolvimento que o Brasil teve ao longo dos últimos anos. É isso que tem de ser comparado.

JC - E porque esses projetos não uniram a Frente?

HUMBERTO - O PT também cometeu erros, tivemos dificuldades de gestão política. Agora, se A ou B não está com o PT, aí você tem que perguntar a eles. Esse partidos fazem parte do nosso projeto tanto que estão na prefeitura, já tiveram no governo do Estado, no governo federal.

JC - Será possível reeditar 2006 com PSB e PT tendo candidatos e convivendo no mesmo campo?

HUMBERTO - É uma campanha diferente. Tínhamos dois candidatos ao governo que apoiavam o mesmo presidente. Lula já disse claramente qual é seu palanque. A presidente Dilma vai dizer também. O governador assumiu o seu. Como nunca fiz política na base da rasteira, nem fazendo fofoca, pretendo fazer campanha com respeito e discutindo as propostas. Espero que todos os candidatos se portem assim.

JC - O senhor e João Paulo sempre estiveram em lados opostos, essa aliança leva o partido para onde?

HUMBERTO - Apesar das disputas internas nunca tive um rompimento político ou pessoal com João Paulo. Me empenhei para que ele não saísse do partido, por exemplo, e isso fortaleceu nossa relação. Depois nos unimos no projeto de prévias apoiando Maurício. Queremos uma aliança que ajude o Recife, Pernambuco e o PT a se construir no Estado. É uma aliança política de longo prazo que vai trabalhar pela unidade do PT.

JC - Como o apoio de Lula vai ficar evidente na campanha?

HUMBERTO - Não vamos travar um debate nacional. Não defendo uma disputa entre Lula e Eduardo, Dilma e Eduardo. As pessoas vão escolher entre os candidatos que estão aí. Os apoios são importantes. O que fez Pernambuco crescer foi a parceira do governo federal com o governo estadual que resultou no estaleiro, refinaria, Hemobrás, Fiat, duplicação da BR-101, transposição, transnordestina. O povo sabe que um prefeito aliado de Lula e de Dilma é bom para a cidade, mas vai julgar é a história de cada um. Eu tenho história política e administrativa. O Recife me conhece e conhece João Paulo, conhece João da Costa, conhece o PT, sabe como a gente trabalha e o que a gente faz.

JC - PSB e PT saem dessa eleição com a mesma relação?

HUMBERTO - Existem afastamentos em cima das questões municipais, mas não vejo uma ação nacional. Defendo que nada mude. Agora, quando chegar em 2014 vamos discutir. O PT vai ter uma candidatura. A população, lógico, quer saber o que acontecerá em 2014, mas saber principalmente sobre as questões relativas à cidade.

JC - A formação de uma Frente capitaneada por Eduardo, isolando o PT, é vista com naturalidade?

HUMBERTO - Não é visto com naturalidade. O natural seria que todos estivessem conosco, a começar do PSB. Daí a reunir uma frente nacional para isolar o PT vai uma diferença.

JC - O PSB busca hegemonia em Pernambuco?

HUMBERTO - Tem que perguntar ao PSB. O ideal é tivesse um equilíbrio político na Frente: já que o governo do Estado está com o PSB, que a Prefeitura do Recife pudesse ficar com o PT.

JC - Mesmo com todas as turbulências, já deu para elaborar algumas propostas para o Recife?

HUMBERTO - Estamos levantando o que foi feito ao longo desses 12 anos para identificar os desafios e elaborar propostas. Nossas prioridades serão os problemas que a população conhece. O maior sem dúvida é a mobilidade. A ideia é investir no transporte público e coletivo, implantar novos corredores de ônibus. Com a inauguração da Via Mangue é possível concretizar uma ideia que trabalhei quando fui secretário (estadual) das Cidades: um grande corredor de Olinda a Piedade (Jaboatão dos Guararapes). Também a utilização de um transporte como a bicicleta é uma coisa que vale a pena investir. Quero trazer o programa que nasceu em Nova Iorque e foi implantado em São Paulo: o cidade amiga do ciclista. Quero que o Recife passe a ter um papel ativo no projeto de navegabilidade do Capibaribe e do Beberibe. Outra coisa importante é a questão da política de saúde, cujo orçamento vamos aumentar. Na educação, aumentar as escolas em tempo integral e cumprir as metas de construção dos Cemeis que são esses centros de educação infantil. Dar continuidade à política habitacional que realmente é um marco na cidade.

JC - Qual a grande obra do governo João da Costa?

HUMBERTO - Inegavelmente a Via Mangue que vai entrar para a posteridade como uma obra estruturadora. Embora a primeira parte tenha sido feita por João Paulo, inegavelmente é uma obra que marca o governo João da Costa.

Ana Lúcia Andrade e Bruna Serra, do Jornal do Commercio 

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...