domingo, 1 de abril de 2012

Onde fica a saída?


Rodolpho Motta Lima

É sempre muito complicado, para não dizer angustiante ou desalentador, escolher a classe política brasileira como assunto para uma coluna. Fica sempre a sensação de estarmos chovendo no molhado, em um círculo vicioso e viciado que não consegue responder à pergunta: “Onde fica a saída?”.

E não é uma questão de nos fixarmos neste ou naquele momento do passado ou do  presente próximo, ou neste ao naquele segmento partidário da política nacional vigente. Já afirmei antes, e repito  agora, minha convicção de que o descalabro político nacional reflete um sistema econômico fundado no lucro desmedido, imoral, que, em função dessa imoralidade que lhe é inerente, não reconhece o significado da palavras como  escrúpulo, honradez, dignidade e tantas outras...

Examinemos, só para argumentar, alguns fatos e atos que estão frequentando agora o noticiário político.

Fala-se, por exemplo, do impasse em que estaria o Governo Dilma, envolvido em conflitos com sua “base política” que, por não constituir, em termos gerais, um segmento ideologicamente comprometido com qualquer linha programática, atua fisiologicamente a partir do lema do “toma lá dá cá”, sendo o “toma lá” o voto necessário ao Governo para levar adiante seus projetos e o “dá cá” a velha sangria dos cofres públicos em ações fraudulentas cometidas a partir da ocupação oportunista de ministérios e outros órgãos. Novidade? Nenhuma. Qualquer brasileiro medianamente informado sabe que este panorama não é novo, estando apenas a merecer maior divulgação, seja porque a mídia tem interesse na desestabilização do Governo, seja porque a própria Dilma resolveu encarar o problema de frente, recusando-se à chantagem que sempre frequentou o nosso cardápio político nas últimas décadas.

Aí sim, talvez esteja surgindo uma luz no fundo do túnel, esse comprido túnel que vem percorrendo as trevas dos mensalões (dois, não se deve esquecer: o do PSDB mineiro e o do PT, que, aliás, surgiram nessa ordem), da tucana compra de votos no governo FHC  para a alteração constitucional que permitiu a reeleição, do dinheiro na cueca no político do PT ou na bolsa (de grife ?) do pessoal da direita de Brasília, de ministros do Governo comprometidos com falcatruas (e afastados) ou da “Privataria Tucana” oposicionista (denunciada fartamente, mas que  vai passando  em branco).

Seria fastidioso continuar aqui enumerando fatos que comprovam essa aptidão da nossa classe política para os malfeitos. Agora mesmo, saindo do forno, temos a história de um senador do DEM, tido e havido (sei lá por quem ou por quê) como arauto da moralidade, envolvido em passagens comprovadamente ilícitas com elemento ligado à contravenção. Ou seja, quando a oposição atribui ao Governo a condição de reduto da corrupção esquece, convenientemente, como o macaco da história, de olhar para o seu próprio rabo...

Também estamos presenciando, em função dessa política imoral dos “representantes do povo”, cenas que fariam inveja a um Dali ou a um Buñuel. Lemos nos jornais que a bancada  “ruralista” (?) do Congresso – com muitos representantes da “base governista” (?) – condicionou  o seu  apoio à assim chamada “Lei da Copa” ao fato de se votar, segundo seus interesses, o “Código Florestal”. Chantagem pura, que exemplifica a ausência total de comprometimento dos políticos com qualquer programa que não seja aquele que contempla seus interesses  específicos, não raro dissociados dos interesses do país. Chama atenção, nesse caso particular, a existência – que, estranhamente, ninguém questiona – de uma bancada “ruralista” com quase uma centena de parlamentares, correspondente a quase um quinto da Câmara. Será que vinte por cento dos brasileiros são “ruralistas”, ou será que a presença desse número de deputados é fruto de um estelionato eleitoral, em que eleitores desinformados acabam, em muitos casos, votando nos seus próprios inimigos? Aliás, é por isso que defendo o voto de lista, um voto partidário, ideológico... Se se constituísse um partido confessadamente ruralista em sua linha programática, apresentando-se como tal, quantos seriam os seus representantes eleitos?  Claro que teria que haver uma reforma partidária séria, que reduzisse os partidos a quatro ou cinco e impedisse essa negociata com tempos de TV ou coisas do gênero, inclusive a criação de um partido fisiológico como o do Sr Kassab, nem de direita nem de esquerda nem de centro, muito pelo contrário...

Onde fica a saída? Começa por posturas como a que Dilma parece querer assumir, de não compactuar com chantagistas e oportunistas. Mas, se isso ocorrer, essa atitude tem que  buscar forte apoio popular. Com a grande mídia, sempre articulada no sentido do “quanto pior melhor”, não se pode contar. Mas movimentos populares podem sacudir este país. Afinal. se os gabinetes são da elite corrupta, a praça é do povo...

Claro que sempre haverá políticos conscientes, capazes de se engajar nessa luta. Agora mesmo, lemos um posicionamento de um deles, que proclama a necessidade de Dilma refazer a sua base com parlamentares éticos, estejam onde estiverem. Pode ser. Mas eu não dispensaria o clamor popular. O compromisso individual de um político, vemos todos os dias, não passa de um engodo, frase para inglês ver. Ou, como disse o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo,  agora apoiado pelo Sr. Maluf, um simples papel sem valor...

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